terça-feira, 25 de outubro de 2011

De quem é a “Culpa”?

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De quem é a “Culpa”?  
Conta-se que uma aldeia, bem nas montanhas, vivia muito triste. Tinha muitos
problemas, fazia anos, e ninguém se entendia sobre eles. Um ficava acusando o outro.
Um dia, um jovem da aldeia retirou-se para a mais alta montanha a fim de
pensar sobre sua vida: será que valia a pena viver  ali? Era tão triste... Não seria
melhor procurar outra aldeia? Mas, no fundo, não queria deixá-la, pois afinal, apesar
da tristeza reinante, era ali que tinha os parentes, os amigos, a namorada. Pediu ajuda
aos deuses. Foram dias e dias de reflexão. Até que os oráculos se compadeceram, e
ele teve uma iluminação.
Voltou, então, para a aldeia e começou a refletir com as pessoas que não
deveriam procurar o “culpado” e sim o responsável,  pois afinal, falar em culpa era
remeter até a um caráter religioso e isto pesava muito. Foi necessário um tempo para
todos se convencerem disto. Vencido este desafio, passou para a segunda fase do
plano: mostrava que, como o problema era muito complexo e de tanto tempo,
provavelmente não haveria um, mas vários responsáveis. 
Quando o ambiente estava preparado, anunciou ao povo que um dos
responsáveis havia sido preso. Todos morreram de curiosidade, pois, de tanto se
acusarem, já haviam perdido a noção das coisas. Organizou-se uma grande fila em
frente à delegacia; todos estavam eufóricos: finalmente aparecia um responsável. O
interessante, no entanto, era observar como as pessoas saíam de lá: cabisbaixas,
reflexivas. Os que estavam ainda aguardando na fila não entendiam bem, pois
esperavam ver uma certa sensação de alívio e de “acerto de contas”.
Toda população interessada teve oportunidade de conhecer um dos
responsáveis através do visor da cela.
Depois, aos poucos, o povoado foi se transformando: os problemas começaram
paulatinamente a serem resolvidos e a alegria foi voltando. A mudança foi tanta que
resolveram fazer uma homenagem ao jovem. Este recusou, argumentando que a
transformação se devia a todos e não apenas a ele.  Pediu, no entanto, uma coisa:
como com o tempo as pessoas poderiam se esquecer, que se conservasse sempre a
possibilidade de se ver um dos responsáveis e que nunca se tirasse, portanto, o
espelho que ele tinha colocado por detrás do visor da cela...
             Celso dos S. Vasconcellos
                                                                                                                                    (adaptação de conto popular)
                            

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